Os animais sempre exerceram um inegável fascínio sobre os humanos. Fosse pela fidelidade canina, pela independência felina, pela polivalência dos equídeos, ora a auxiliarem-nos com a sua força, ora substituindo os seus colegas bovinos numa lasanha, pela forma destemida como o cágado se lança pelo remoinho da retrete esgoto adentro, pela graciosidade vertical com que o pombo escapa in-extremis ao embate do pára-choques ou pela forma suculenta como um galináceo aparece no nosso prato, depois de nos ter melgado o juízo com o seu cacarejar demasiado matutino para quem pretendia uma manhã de descanso depois da ressaca da noite anterior. Obviamente, tal afecto, tão arreigado nas raízes que identificam o nosso povo, não poderia passar incólume aos clubes de futebol, eles próprios expressão de um sentimento sócio-cultural de um grupo de indivíduos.
É certo que os clubes de futebol procuram animais com conotações “nobres”, sejam eles leões, águias, dragões, tigres, galos, D. Afonso Henriques, golfinhos ou castores (se pensarmos que em inglês “castor” significa “beaver” e “beaver” é, em calão, uma coisa de dignidade duvidosa, mas ainda assim muito procurada pelos homens com as hormonas à flor da pele). Mas há sempre uma ou outra excepção à regra. E é isso que pretendemos debater.
Lá para os lados de Guimarães, os Caçadores das Taipas adoptaram como mascote um porco. Bom, em rigor, é um javali. Perante tão insólita mascote, várias perguntas nos assaltam: como se tratarão os indefectíveis adeptos dos Caçadores das Taipas? “Grandes porcos”? Terão claques com nomes como “Ultras Recos” ou “Torcida Suína”? Quando se referem a “arbitragens armadilhadas” será que os devemos tomar no sentido literal da expressão? Como reagirão perante um jogo Mealhada – Caçadores das Taipas? Será que o Caneira e o Obélix alguma vez foram declarados cidadãos eméritos das Taipas?
Se formos justos, pese embora a pouca ortodoxia, até há alguma razoabilidade na escolha de um porco selvagem, visto ser um clube de caçadores. E todos sabemos que o que não faltam são porcos por aí à solta, pelo que esta mascote até é capaz de granjear alguma simpatia. O Maniche, por exemplo, poderá rever-se e achar engraçado.
Maniche tentou a sua sorte como Bebop nas Tartarugas Ninja, mas apenas gravou o episódio piloto – perdendo assim a hipótese de encarnar uma das mais carismáticas personagens secundárias das anos 90. |
E depois há aqueles clubes que vão mesmo ao âmago da portugalidade e escolhem para sua mascote… exactamente, um pinguim. Acontece em Santa Comba Dão, uma terra que carrega o estigma de ter dado berço ao Oliveira mais influente do último século (e não estamos a falar da família do ex-seleccionador nacional). Um pinguim, meus senhores. Uma ideia brilhante. Até nos admiramos de Carregal do Sal não ter designado um urso polar ou de Mortágua não ter optado por um canguru, mas tamanha verve ocorreu apenas em Santa Comba Dão. Se reflectirmos bem sobre a Beira Alta, na exuberância beirã, no virtuosismo do seu futebol, no espírito estóico das suas gentes, o que nos vem à mente? Se percorrermos as ruas graníticas de Santa Comba Dão, se entrarmos nos seus cafés, se fizermos cócegas ao seu pelourinho, se escavarmos as suas fecundas terras à procura de minhocas, se espreitarmos para os ramos das suas frondosas árvores, se perscrutarmos o azul infinito do seu glorioso firmamento, o que será provável encontrar? A resposta para todas estas questões é exactamente essa que vocês estão a pensar: um pinguim.
Se o pinguim terá jeito para ser associado a um clube de futebol tão longe da Antárctica é por certo discutível. Mas já cá houve pelo menos um pinguim a jogar à bola. Digam agora de vossa justiça.
1 comentário:
vai gozar com o caçete do teu pai,rodrigues
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